LINGUÍSTICA TEXTUAL: COESÃO E COERÊNCIA


 

No capítulo 2, “A tessitura dos textos orais e escritos: processos de referenciação”, você estudou sobre a referência situacional (exófora) e a textual (endófora). Baseando-se nesse estudo, avalie as situações a seguir identificando se o elemento grifado tem papel fórico – anáfora ou catáfora – ou papel dêitico.

 

Situação comunicativa A): na sala de costura de uma malharia, uma costureira manda um bilhete para a colega com os seguintes dizeres: “Se eu ganhasse na loteria esportiva, estaria em outro lugar: Havaí, Cancun ou Porto Seguro". Analise o enunciado do bilhete, considerando a expressão “outro lugar”.

 

Situação comunicativa B): na sala de costura de uma malharia, uma costureira manda um bilhete para a colega com os seguintes dizeres: “Amanhã faltarei ao trabalho para ir ao jogo do flamengo, você vai?”. Analise o enunciado do bilhete, considerando a expressão “você”.

 

Situação comunicativa C): na sala de costura de uma malharia, uma costureira manda um bilhete para a colega com os seguintes dizeres: “A chefe está cada vez mais chata, também ela não tem o que fazer!”. Analise o enunciado do bilhete, considerando a expressão “ela”.

 

A partir de suas análises, avalie as afirmativas a seguir, colocando V para verdadeiro e F para falso.

            

(   ) No enunciado da situação comunicativa A, a forma remissiva “outro lugar” aponta para os referentes (Havaí, Cancun ou Porto Seguro) que estão no enunciado. Como a forma remissiva (outro lugar) precede os elementos de referência (Havaí, Cancun ou Porto Seguro), trata-se de uma catáfora – papel fórico.           

(   ) No enunciado da situação comunicativa C, a forma remissiva “ela” aponta para um referente (A chefe) que está no enunciado. Como o referente está antes da forma remissiva (ela), trata-se de uma anáfora – papel fórico.           

(  ) Nos enunciados da situação comunicativa A e da situação comunicativa C, percebemos a presença de formas remissivas que apontam para elementos que estão fora dos enunciados, por isso as duas constituem dêiticos.           

(   ) No enunciado da situação comunicativa C, a forma remissiva “A chefe” aponta para um referente (ela) que está no enunciado. Como o referente está depois da forma remissiva (A chefe), trata-se de uma anáfora – papel fórico.           

(   ) No enunciado da situação comunicativa B, a forma remissiva “você” aponta para um referente fora do enunciado, no caso está se referindo à leitora do bilhete, por isso constitui-se como um dêitico.

 

A sequência correta é:


F, F, F, F, F


F, F, V, V, V


V, V, V, F, F


V, V, F, F, V


V, F, V, F, V

Leia o trecho a seguir:

 

Ao oportunizar a descoberta pacífica das diferenças, o ciberespaço contribui para o reconhecimento do outro e para o sentimento de fraternidade. Ele é, sobretudo, um espaço de diálogo, nele, os diferentes se encontram, expressam seus pontos de vista, discutem, negociam sentidos, descobrem-se. Múltiplas vozes são ouvidas e encontram eco, repercutem em processos de reflexão, de debates, de construção colaborativa de conhecimentos, de ajuda mútua e cooperação. O ciberespaço estende a cada pessoa conectada à rede a oportunidade de se expressar e comunicar com o mundo, assim democratiza o espaço do discurso mundial, oportunizando a ressonância da voz mais simples, mesmo que originada nos recônditos mais ignorados do planeta. Instituindo o poder de voz, o ciberespaço destitui a hierarquia dos interlocutores e horizontaliza a divulgação de ideias, a construção do saber (LEVY, 1999) e a expressão existencial.

 

Considerando seus estudos acerca da Língua Portuguesa, da Norma Padrão e suas variantes, assinale a alternativa correta:

 


O texto foi escrito considerando a Norma Padrão da Língua Portuguesa.


O texto utiliza, em grande parte, regionalismos da região nordeste do Brasil.


O texto é extremamente incoerente e truncado, por isso, não  há como caracterizá-lo.


O texto foi escrito utilizando o português arcaico, isto é, antigo, especialmente do séc. XVIII. 


O texto foi escrito utilizando gírias da faixa etária da adolescência.

De acordo com os estudos acerca do mundo narrado e do mundo comentado, leia o texto a seguir:

 

 

Os 30 graus de temperatura, multiplicados por uma umidade de 80%, não impediram que uma multidão assistisse à primeira missa do Papa Francisco no Equador, onde chegou na tarde de domingo e foi recebido pelo presidente Rafael Correa. “A família é o hospital mais próximo”, disse Bergoglio, “a primeira escola das crianças, o grupo de referência imprescindível para os jovens, o melhor asilo para os idosos”.

 

Então, o Papa alertou, em um trecho muito significativo no Equador, que “a família constitui a grande riqueza social que outras instituições não podem substituir”. Ninguém deixa de perceber que a visita do Papa, transformado em referência mundial, não só no aspecto religioso, reúne também um grande conteúdo político. Tanto o presidente da República do Equador como uma massa social cada vez mais inquieta por suas reformas esperam que [o Papa] Bergoglio defenda os seus interesses.

 

EL PAÍS. Papa Francisco defende justiça social diante de grande multidão no Equador. Disponível em: . Acesso em: 09 jul. 2015.

 

 

Agora, analise as afirmativas:

 

I) No texto, é possível perceber que o autor narra como o Papa Francisco foi recebido, no Equador, pelo presidente Rafael Correa, inclusive mostrando a fala do Papa na ocasião (mundo narrado). Em seguida, o autor comenta sobre essa visita do Papa a esse país (mundo comentado).

 

II) Não há que se falar em diferença da relação de tensão e compromisso estabelecida pelo locutor no mundo narrado e no mundo comentado, uma vez que o único objetivo do autor é narrar os fatos, mostrando como o Papa Francisco foi recebido, no Equador, pelo presidente Rafael Correa.

 

III) No mundo narrado, a atitude do locutor é menos tensa, pois ele simplesmente relata os fatos sem ter que se comprometer em relação com o que é dito. Nesse relato, o autor apenas narra como foi a visita do Papa ao Equador, ou seja, não expõe sua opinião.

 

IV) No mundo comentado, o autor compromete-se mostrando o que pensa sobre a situação: a visita além de ser de conteúdo religioso, é de conteúdo político, pois o presidente do Equador e seus apoiadores esperam que o Papa os defenda. Assim, o comentário é mais tenso, pois o autor assume uma posição em relação ao que foi narrado.

 

São corretas as afirmativas contidas na alternativa:

 


I e II


I, III, IV


IV, apenas


II e III


III e IV

Os indicadores modais ou modalizadores são elementos linguísticos que determinam como aquilo que se diz é dito e também apresentam, na construção do sentido do enunciado, a intenção do dito pelo modo que se diz. Assim, a modalização constitui a marca dada pelo sujeito a seu enunciado, ou seja, os modalizadores são meios pelos quais um falante manifesta o modo com que ele considera o seu próprio enunciado. Sendo assim, considerando os estudos sobre esse assunto, analise a expressão “Felizmente”, no trecho a seguir:

 

Felizmente, podemos adotar medidas para diminuir o aquecimento global. Ele resulta basicamente de atividades humanas que liberam gases heat-trapping e partículas no ar. [...] Para reduzir a emissão destes gases “retentores de calor” como o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, podemos refrear nosso consumo de combustíveis extraídos da terra, usar tecnologias que reduzam a quantidade de emissão sempre que possível, e proteger as florestas do mundo. (MARCOVITCH, 2006, p.23)

 

MARCOVITCH, Jacques. Para mudar o futuro: mudanças climáticas, políticas públicas e estratégias empresariais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Editora Saraiva, 2006. Disponível em: . Acesso em: 09 jul. 2015.

  

Com base na análise, assinale a única alternativa CORRETA:

 


A expressão “Felizmente” mostra uma reação emotiva do falante diante do conteúdo do trecho “podemos adotar medidas para diminuir o aquecimento global”, pois ele considera esse conteúdo como algo bom e mostra que se sente feliz diante dele. Sendo assim, a expressão é considerada uma modalização afetiva.


A expressão “Felizmente” é um verbo auxiliar modal, por isso ela estabelece uma ação para o conteúdo do trecho “podemos adotar medidas para diminuir o aquecimento global”.


A expressão “Felizmente” indica que o autor considera o conteúdo do trecho “podemos adotar medidas para diminuir o aquecimento global” como quase certo, sendo assim a expressão mostra que possivelmente as medidas irão ocorrer, por isso a expressão é considerada um modalizador quase asseverativo. 


A expressão “Felizmente” indica que o autor considera o conteúdo do trecho “podemos adotar medidas para diminuir o aquecimento global” como algo que deve ocorrer de forma obrigatória, sendo assim é uma modalização deôntica [que se refere às normas].


A expressão “Felizmente” é um modalizador asseverativo negativo, pois por meio dela o autor ressalta que discorda do conteúdo do trecho “podemos adotar medidas para diminuir o aquecimento global”.

Analise, atentamente, o trecho a seguir:

 

O corpo humano é constituído por vários órgãos. A cabeça é constituída pelo crânio e pela face; contém o cérebro e os órgãos da visão, audição, olfato e paladar. O tronco é ligado à cabeça pelo pescoço, caracteriza-se como sendo a parte mais volumosa do corpo humano. Os membros dividem-se em superiores – ombros, braços, antebraços e mãos; e inferiores –  quadril, coxas, pernas e pés.

 

A estrutura textual da progressão temática do trecho apresentado constitui-se como:

 


Progressão temática com um tema constante (quando a um mesmo tema são acrescentadas, em cada enunciado, novas informações remáticas).


Progressão temática com tema variado (quando, de um hipertema, se derivam temas parciais).


Progressão o salto temático (quando há omissão de um segmento intermediário da cadeia de progressão temática, deduzível facilmente do contexto).


Progressão temática linear (quando o rema de um enunciado passa a tema do enunciado seguinte. O rema deste é tema do seguinte, e assim sucessivamente).


Progressão temática por desenvolvimento de partes de um rema subdividido (desenvolvimento das partes de um rema superordenado).

Leia o texto a seguir.

 

As centrais sindicais brasileiras enviaram uma carta à presidente, fazendo sugestões para enfrentar a atual crise financeira nacional. O documento é útil por dois motivos. Primeiro, para saber da quantidade de centrais que o país possui. Segundo, por revelar a preocupação dos dirigentes sindicais com os atos do atual governo.

 

Na sequenciação frástica, a progressão temática assume vital importância na sequenciação do texto. Nesse sentido, “o tema constitui o tópico, aquilo que é dado, conhecido, e o rema, o comentário, aquilo que se acrescenta ao tema, fazendo o texto progredir” (MARTINS, 2011, p.86). 

 

Baseando-se nesse estudo, analise as expressões “uma carta” e “O documento” presentes no texto acima e avalie as afirmativas a seguir. Assinale a única afirmativa CORRETA:

 


O tema principal “uma carta” é constituído pelas partes “primeiro” e “segundo”, sendo assim a progressão temática é feita pelo desenvolvimento de partes de um rema subdividido.

 


Por meio dessas expressões, percebemos que os temas são variados, ou seja, que são temas parciais pertencentes ao hipertema “uma carta”. Assim, este é o tema global.

 


A expressão “uma carta” é retomada pelas expressões “atual crise financeira nacional” e “atos do atual governo” assim vemos que a um mesmo tema são acrescentadas, em cada enunciado, novas informações remáticas.


Por meio das expressões “uma carta” e “O documento”, percebemos uma progressão temática linear, pois o rema de um enunciado passa a ser tema do enunciado seguinte.

 


As expressões mostram um salto temático, configurando a omissão de um segmento intermediário da cadeia de progressão temática que é facilmente deduzível no contexto.

Leia o trecho, a seguir, extraído da canção “Bala perdida”, de Gabriel o Pensador:

 

 

Bala perdida

             Gabriel o Pensador

Bom dia, mulher
Me beija, me abraça, me passa o café
E me deseja "Boa sorte"
Que seja o que Deus quiser
Porque eu tô indo pro trabalho com medo da morte
Nessas horas eu queria ter um carro-forte
Pra poder sair de casa de cabeça erguida
E não ser encontrado por uma bala perdida
Querida, eu sei que você me ama
Mas agora não reclama, eu tenho que ir
Não se esqueça de botar as crianças debaixo da cama na hora de dormir
Fica longe da janela e não abre essa porta, não importa o motivo
Por favor, meu amor, eu não quero encontrar você morta [...]

 

(Fonte: PENSADOR, Gabriel o. Bala perdida. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2018.)

 

Em relação às expressões “eu” e “você”, pode-se afirmar:

 

1.O pronome “eu” indica uma pessoa do discurso que participa do ato de fala; é quem fala no discurso.

2.O pronome “você” indica uma pessoa do discurso que participa do ato de fala; é a pessoa para quem se fala, no discurso.

3.O pronome “eu” indica uma pessoa do discurso que participa do ato de fala; é a pessoa para quem se fala no discurso.

4.O pronome “você” indica uma pessoa do discurso que participa do ato de fala; é quem fala no discurso.

5. Os pronomes “eu” e “você” não participam do ato de fala, pois são pessoas de quem se fala no discurso.

 

Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas:


1, 2, 3, 4, 5


2 e 3 


1 e 2


1 e 4


1, 2 e 3

Leia atentamente o texto a seguir.

  

A língua-problema

 

Duas moças conversavam no ônibus:

 

__Tou com um “poblema”.

__ Peraí, um “poblema” ou um “pobrema”?

__ Não é a mesma coisa?

__ Poblema é de matemática, ensinam na escola. Pobrema é em casa. O marido bebe, bate na gente...

 

Contaram-me isso como fato verídico, mas tem jeito de piada. Pouco importa. No diálogo, nada inverossímil, alguém verá o retrato tragicômico de uma população iletrada.

 

Pode ser. Mas não é tudo. Há algo de genial na cena. Perspicácia e sutileza se juntam, na contramão da gramática, para expressar fino discernimento. A segunda moça nos diz, a seu modo, que questões abstratas do mundo culto (poblemas) nada têm a ver com dramas cotidianos (pobremas). Exigem, portanto, palavras diferentes. Seria generalização grosseira colocar esses conceitos sob o mesmo guarda-chuva, a palavra oficial, “problema”.

 

A intimidade com a vida real revela nuances e, claro, estimula a diversidade semântica. Povos berberes, com sua imemorial convivência com o camelo, dão nomes distintos a cada pata do animal. É assim que funciona. Pouco importa se essa diversidade semântica, de início, se expresse por infrações à gramática. Deturpações e corruptelas com o tempo são assimiladas, se fizerem sentido.

 

Peraí, “poblema” ou “pobrema”?

 

Eis a questão. Se aprendêssemos a perceber a diferença, talvez fôssemos mais felizes. Muito do que nos atormenta existe só no plano imaginário, como era, para os homens da Idade Média, a iminência do fim do mundo. Um mero poblema. Sem lastro no cotidiano.

 

A diferença entre “poblema” e “pobrema” talvez seja um dia definida no Houaiss ou no Aurélio. Se e quando o vocabulário-raiz, “problema”, cair em desuso. Será lembrado em afetados textos jurídicos e na bula de pomada Minâncora. Pode acontecer. Menos provável será que os burocratas da língua desistam de unificar o português de gente de diferentes climas e fusos horários, nas mais diferentes situações. Reforma boa, mesmo, não é a ortográfica, mas a que começa no bairro. Pena que não prestem atenção no que as moças dizem. Esse é o “pobrema”.

 

(Fonte: MODERNELL, R. Revista Língua Portuguesa – Ano 4, no. 49, novembro de 2009, p. 53. Texto adaptado. Disponível em: Acesso em: 04 out. 2010).

 

Ao realizarem uma abordagem de conceitos gerais de língua e sociedade, variação e conservação linguística, Celso Cunha e Lindley Cintra enfatizam que

 

Condicionada de forma consistente dentro de cada grupo social e parte integrante da competência linguística dos seus membros, a variação, é, pois, inerente ao sistema da língua e ocorre em todos os níveis: fonético, fonológico, morfológico, sintático, etc. E essa multiplicidade de realizações do sistema em nada prejudica as suas condições funcionais.” 

 

Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008, p.3.

 

Com base nesse fragmento e considerando as ideias presentes no texto, infere-se, CORRETAMENTE, que:

 


Do ponto de vista da Sociolinguística, é totalmente errado utilizar as palavras “poblema” e “pobrema” naquele contexto, haja vista que as moças não tiveram êxito em sua conversa.


A única variedade da língua socialmente aceita é a forma padrão. Trata-se de uma linguagem mais formal, que segue os princípios da gramática normativa, e catalogada nos dicionários e ensinada nas escolas. Somente a forma padrão da língua é adequada para a expressão das necessidades comunicativas e cognitivas dos falantes.


A diversidade semântica, ilustrada por meio dos termos “pobrema” e “poblema”, é tratada de uma forma irônica, já que tal fato decorre de um grosseiro erro gramatical, o que não impede o entendimento do diálogo e a mensagem que se quer passar naquele contexto.


Há uma enorme distância entre as experiências vivenciadas no cotidiano e o que é ensinado nas escolas, conforme demonstrado linguisticamente ao se enfatizar que “poblema é de matemática, ensinam na escola” e “pobrema é em casa”; fica claro que as situações relatadas são distintas e, desse modo, para sua plena compreensão, exigem palavras diferentes.


Os “burocratas da língua”, em suas tentativas de unificação do português, lograrão êxito, um dia, visto que a língua padrão, embora seja uma entre as muitas variedades do idioma, é sempre a de mais prestígio por atuar como ideal linguístico de uma comunidade e possuir uma função coercitiva sobre as outras variedades.

Leia atentamente o texto a seguir.

  

 A língua-problema

 

Duas moças conversavam no ônibus:

 

__Tou com um “poblema”.

__ Peraí, um “poblema” ou um “pobrema”?

__ Não é a mesma coisa?

__Poblema é de matemática, ensinam na escola. Pobrema é em casa. O marido bebe, bate na gente...

 

Contaram-me isso como fato verídico, mas tem jeito de piada. Pouco importa. No diálogo, nada inverossímil, alguém verá o retrato tragicômico de uma população iletrada.

 

Pode ser. Mas não é tudo. Há algo de genial na cena. Perspicácia e sutileza se juntam, na contramão da gramática, para expressar fino discernimento. A segunda moça nos diz, a seu modo, que questões abstratas do mundo culto (poblemas) nada têm a ver com dramas cotidianos (pobremas). Exigem, portanto, palavras diferentes. Seria generalização grosseira colocar esses conceitos sob o mesmo guarda-chuva, a palavra oficial, “problema”.

 

A intimidade com a vida real revela nuances e, claro, estimula a diversidade semântica. Povos berberes, com sua imemorial convivência com o camelo, dão nomes distintos a cada pata do animal. É assim que funciona. Pouco importa se essa diversidade semântica, de início, se expresse por infrações à gramática. Deturpações e corruptelas com o tempo são assimiladas, se fizerem sentido.

 

Peraí, “poblema” ou “pobrema”?

 

Eis a questão. Se aprendêssemos a perceber a diferença, talvez fôssemos mais felizes. Muito do que nos atormenta existe só no plano imaginário, como era, para os homens da Idade Média, a iminência do fim do mundo. Um mero poblema. Sem lastro no cotidiano.

 

A diferença entre “poblema” e “pobrema” talvez seja um dia definida no Houaiss ou no Aurélio. Se e quando o vocabulário-raiz, “problema”, cair em desuso. Será lembrado em afetados textos jurídicos e na bula de pomada Minâncora. Pode acontecer. Menos provável será que os burocratas da língua desistam de unificar o português de gente de diferentes climas e fusos horários, nas mais diferentes situações. Reforma boa, mesmo, não é a ortográfica, mas a que começa no bairro. Pena que não prestem atenção no que as moças dizem. Esse é o “pobrema”.

 

(Fonte: MODERNELL, R. Revista Língua Portuguesa – Ano 4, no. 49, novembro de 2009, p. 53. Texto adaptado. Disponível em: Acesso em: 04 out. 2010).

 

O texto “A língua-problema” critica, de alguma maneira, a preocupação das autoridades em relação à normatização da língua, citando a Reforma Ortográfica e faz uma proposta. Assinale a alternativa que apresenta a proposta do autor e que aponta o papel da escola em relação ao tema relacionado à variedade linguística, tomando como base os estudos realizados.


O autor propõe que as escolas trabalhem com os alunos em sala de aula sobre as variantes da palavra problema. O papel da escola é ensinar que a única forma aceitável de uso da língua é o da forma culta e que esta irá melhorar a situação do indivíduo.


O autor propõe que as autoridades se preocupem mais com o ensino-aprendizagem de língua portuguesa, considerando o ensino da norma padrão. O papel da escola é privilegiar a norma culta, tendo em vista que esta irá garantir ao aluno a capacidade de lidar com as mais variadas situações comunicativas.


O autor propõe que as escolas revejam o ensino da língua portuguesa, considerando o estudo das variantes linguísticas. O papel da escola é privilegiar a variedade da língua usada pelas pessoas ditas escolarizadas, uma vez que esta é a variante cobrada nas diversas situações comunicativas.


O autor propõe que os professores de língua portuguesa trabalhem em sala de aula a gramática teórica, que servirá de apoio para o aluno e que deve ser objeto de ensino nas atividades de sala de aula. O papel da escola é mostrar a importância do domínio da norma culta.


O autor propõe que as autoridades se preocupem mais em olhar as reais necessidades do povo brasileiro do que em unificar o português de países diferentes. O papel da escola é mostrar ao aluno que, tanto a variante que ele trouxe de casa, quanto a variante culta estão certas, o que importa é usarmos adequadamente a língua portuguesa em diferentes situações, de acordo com o lugar e o público.

A expressão “eu vou no banheiro” tem sido usada por grande parte dos brasileiros. No entanto, ela é considerada uma inadequação, haja vista que a norma padrão considera adequada a expressão “eu vou ao banheiro”.

A expressão “eu vou no banheiro” pode ser considerada um exemplo do princípio:


encaixamento


Fatores condicionantes


implementação


avaliação


Transição 

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